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Mais do que lazer e confraternização, o ensejo do campeonato, do ponto de vista dos organizadores, tem o objetivo de aproximar os jovens residentes nas comunidades do entorno da Fiocruz para a prática do esporte. A mensagem de fundo é a de que, ainda que nesses territórios dominem facções rivais e que o tráfico tenha estabelecido a hostilidade como marca da relação entre os moradores dos complexos, é preciso se incentivar a transformação radical das bases dessa convivência. Na última quarta-feira (1/6), os times Vila do Pinheiro e Vila do Arará, e Vila do João e Amorim, da Maré e de Manguinhos, respectivamente, dividiram o campo da Asfoc, no campus da Fiocruz em Manguinhos.

 

 

Essa é a contribuição da cultura de paz para o esporte praticado nas periferias, diz o coordenador do projeto Esporte e Promoção da Saúde, Alexandre Borba, que encerra suas atividades ainda este mês. Nos últimos anos, foram realizados um seminário sobre os horizontes pedagógicos possíveis para a educação física em contextos de favelas, feito um levantamento sobre as iniciativas sociais ligadas ao esporte em Maré e Manguinhos, e construídos indicadores para mapear suas características.

Para ele, é fundamental que os profissionais de educação física que atuam em comunidades marcadas pela violência formulem estratégias pedagógicas que tornem o convívio entre as juventudes desses locais possível e saudável. “Nesses casos, a limitação que se impõe na vida desses jovens de favelas diferentes vai muito além das amizades, mas do acesso físico a determinados territórios”, argumenta Alexandre Borba.

O campeonato acontecerá nas quartas-feiras de junho, encerrando com as finais no dia 17, das 14h às 16h. Ao todo, são confirmados oito grupos de comunidades dos Complexos da Maré e de Manguinhos. Os vencedores ganharão troféus, medalhas e camisetas personalizadas. Os demais levarão medalhas de participação. A realização do campeonato é uma parceria entre a Coordenadoria de Cooperação Social da Fiocruz, Asfoc (Sindicato dos Trabalhadores da Fiocruz) e Rede CCAP (Centro de Cooperação e Atividades Populares).

Esporte, ética e cidadania

Presidente da Associação de Moradores Amigos do Parque Oswaldo Cruz (Amorim), Simone Quintella acredita no poder dessas atividades para dissolver as barreiras simbólicas colocadas pelas relações de poder que regulam o cotidiano das favelas dominadas pelo tráfico.

“A gente trabalha com as crianças e a juventude justamente para quebrar isso. É com eles que a gente começa, e são eles que, no futuro, vão ajudar a educar pessoas melhores dentro da própria família, com seus filhos, sobrinhos...”, defende Simone Quintella. “Quando esses times se encontram, eles veem que são todos iguais, todos crianças, todo em busca dos seus sonhos. É nessa interação que eles se afastam dessa rivalidade. Esses encontros são divisores de água na vida dos que participam”, argumentou.

Metodologia

 

A discussão sobre as dinâmicas de reivindicação e acesso a direitos, e as questões de classe e cor foram pontos importantes da metodologia de ensino do projeto Esporte e Promoção da Saúde. “Durante todos os anos de projeto, em especial de 2007 a 2011, procuramos estimular a reflexão dos alunos sobre como se posicionarem diante da realidade de seus territórios, através de aulas provocativas, discutidas semanalmente entre os professores”, conta. A proposta era que, por meio do estímulo à participação social e leitura crítica da realidade, os alunos pudessem exercer mais plenamente sua cidadania, seus talentos e contribuir para promover a saúde em seus territórios, com tudo o que isso implica.

Em um exemplo de aula emblemática sobre as diferenças do espaço público e privado na vida da cidade, os professores do projeto dividiram o campo de futebol em duas partes: em uma, um terço da turma treinava com todo o material de que precisavam; na outra, se aglomeravam dois terços da turma, com cones que simulavam buracos, pouco material e bolas vazias. “A gente percebia que os alunos reclamavam muito das condições que estavam colocadas para o público, sem eles saberem da proposta. E a forma como que eles reivindicavam era simplesmente parar num canto e não fazer mais nada. Ao invés de chegar no professore perguntar porquê o outro grupo está fazendo a aula naquele campo”, comentou Alexandre Borba.

Quanto mais alunos desertavam o campo, mais o espaço onde eles jogavam era reduzido, sob o argumento de que eles não estavam aproveitando, e que a outra equipe estava pagando pela aula. Sendo assim, aquela faixa de campo seria apropriada por eles. Nesse momento, se configura a teatralidade da aula, já que o projeto é social e não cobra taxa de associação.

“Nessas discussões íamos conseguindo trazer os questionamentos: Ah, o espaço público é ruim? É ruim. Mas como a gente se posiciona dentro dessa realidade? Vamos abandonar? Se abandonar, quem é que vai tomar conta disso? Se alguém tomou conta disso, e para você entrar aqui de novo?”, indagou.

 

 

Projetos em captação

Atualmente, três projetos elaborados pela coordenação do Esporte e Promoção da Saúde foram submetidos à lei de incentivo fiscal, entraram em fase de captação, e contam com o apoio da Sociedade de Promoção da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz). Um deles, de futebol de campo, funcionará no campus de Manguinhos, os outros dois são dedicados ao futsal: um se instalará na quadra da Expansão, em Manguinhos, e o outro na Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá. Ao todo, serão atendidos 70 alunos moradores de Manguinhos, Maré e do novo Bairro Colônia Juliano Moreira, de duas faixas etárias: de 10 a 13 e de 14 a 18 anos. São previstos cinco campeonatos e quatro seminários relacionados ao tema do esporte, da cultura e da cidadania.

FONTE: https://agencia.fiocruz.br/projeto-esportivo-integra-jovens-de-comunidades-do-rio

Projeto esportivo integra jovens de comunidades do Rio

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